Sobre Deus

Uma causa para Deus

Quem nunca se perguntou “Quem fez Deus?”. Esta é uma pergunta muito legítima, nossa razão demanda que peçamos uma causa para tudo que existe. Ora, se tudo que existe possui uma causa, então Deus possui uma causa também; portanto, é legítimo e racional se perguntar quem fez Deus. Porém, na verdade, não é necessário que seja bem assim. Explicamos por que.


Primeiro, se Deus existe e é a causa primeira, então não pode ter havido uma causa para ele, senão Deus não seria a causa primeira. Isso é óbvio! Se Deus tivesse sido causado, então sua causa é que seria a causa primeira, não Deus, e teríamos de procurar uma causa para a causa de Deus ou considerar a causa de Deus como Deus mesmo. Porém, Deus é, necessariamente, a causa primeira de tudo. Ora, sendo ele a causa primeira de tudo, não pode, sob nenhum ponto-de-vista lógico, possuir uma causa, pois, como já dissemos, se Deus possuísse uma causa, então essa causa é que seria a primeira. Dessa forma, é ilógico se pedir uma causa para Deus.


Deus é o princípio, ou seja, foi com ele que tudo começou. É ilógico, portanto, pedir uma causa para ele, pois, se ele tivesse causa, não seria o princípio, a causa dele é que seria. É justamente isso que Santo Tomás tenta nos dizer em seu argumento. Ou seja, ou admitimos que exista uma causa primeira para tudo, ou então teremos que retornar até o infinito nas causas, isso, sim, seria absurdo.


Um outro motivo pelo qual é absurdo se pedir uma causa para Deus é o fato de que Deus fez tudo. Veja bem, dizemos tudo. Isso quer dizer que Deus fez o tempo também. Ele fez o antes, o agora e o depois. Ora, se Deus fez tudo, fez o tempo também; se fez o tempo, fez também o antes. Logo, não se pode dizer que havia algo antes de Deus, pois antes de Deus não havia ANTES, simplesmente porque não havia tempo, pois o tempo é também uma criação de Deus. Não existe ANTES com relação a Deus. é ilógico se perguntar o que havia antes de Deus, pois, com relação a Deus somente existe o presente e o futuro, nunca um antes. Deus fez o ANTES, logo, antes de Deus fazer, não havia isso que nós chamamos de ANTES. Se alguém lhe perguntar o que Deus fazia antes de criar o mundo, você simplesmente pode dizer que não havia ANTES antes de Deus fazer o universo. Isso é algo lógico e óbvio demais.


Ainda com relação a uma possível causa para Deus, pode-se afirmar que pedir uma causa para Deus é absurdo por mais um motivo. Deus criou tudo, absolutamente tudo. Ora, sabemos e vemos que as coisas são, necessariamente, causadas. No universo existe uma inexorável relação de causa e efeito. Porém, se Deus criou tudo, ele criou também essa relação inexorável de causa e efeito, e isso quer dizer que a relação de causa e efeito era algo que não existia antes de Deus a criar. Ora, isso quer dizer que, ainda que para nós hoje seja impossível algo existir sem causa, houve algum momento em um passado inimaginável para nós - antes de Deus criar a necessidade de causação – que simplesmente não havia a necessidade de causa e efeito. Logo, não há necessidade lógica de se pedir uma causa para Deus, simplesmente pelo fato de que, antes de Deus criar tudo o que existe, não existia também o que chamamos de causa. Tudo o que existe demanda uma causa, há a necessidade de uma causa para as coisas, mas essa necessidade foi Deus mesmo quem criou, ela não existia antes de ele a criar.


Embora existam muitos argumentos a favor da existência de Deus, lucubrações filosóficas com pretensão de racionalidade, o fato é que nenhuma delas prova que existe Deus. De fato, podemos afirmar com certeza que, se Deus quisesse provar que ele existe, ele mesmo faria isso, não dependeria de pessoas mortais e imperfeitas, cujas mentes são, por natureza corruptas e incapazes de apreender, por si sós, o divino. Se Deus é invisível aos nossos olhos, ele deve ter seus motivos para isso. Se permite que pessoas neguem sua existência, então também deve ter seus propósitos para isso. Portanto, deve haver um propósito na não-possibilidade de se provar que Deus existe.


A verdade é que, ainda que Deus não fosse invisível, ainda que aparecesse aos olhos humanos, sempre haveria motivo para se duvidar de sua existência. Porém, os motivos para se duvidar da existência de Deus não são a falta de provas, defenderemos mais adiante que esses motivos são bem menos nobres e bem menos racionais do que os comumente alegados. Esse texto está em Causa psicológica do ateísmo.

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